segunda-feira, 23 de julho de 2012

In Search of a Midnight Kiss (2007)


Saído da escola de Austin, Texas e devendo muito a “Annie Hall”, “In Search of a Midnight Kiss” é uma criatura totalmente diferente dentro do contexto do mumblecore. Este pequeno e lindíssimo filme não é tão real e verosímil quanto se poderia esperar, valendo principalmente pela qualidade técnica e pelas referências à cultura pop que consegue inserir em 90 minutos de filme. Continua, isso sim, a ser um filme sobre pessoas, pessoas comuns que poderiam ser eu ou tu.

No papel-tipo que nos anos 70 pertenceria a Woody Allen está um protótipo muito característico do século XXI: Wilson (Scoot McNairy) é aquele tipo sensível e romântico, poster-boy da geração-Y, neurótico que ouve música deprimente e se considera misantropo. Numa véspera de Ano Novo estranha, coloca um anúncio no Craigslist, dá uso ao seu bongo e submete-se a uma série de humilhações saídas de um filme dos irmãos Farrely envolvendo discutir os implantes mamários da mãe e ser apanhado, digamos, com as calças pelos joelhos, a olhar para pornografia falseada com a cara da namorada do colega de quarto.

A primeira resposta ao anúncio é, claro, de Vivian, o tipo de rapariga bonita, excêntrica e confiante que acaba invariavelmente por se interessar por este protótipo (mesmo quando se trata de um gajo pálido e nada atraente – como no filme anterior, pensem em “Garden State” ou “Juno”). Sem grandes surpresas, e apesar de isto não ser uma comédia romântica, não se dão bem ao início (o argumento de Alex Holdridge não prima pela originalidade), mas, mais uma vez sem surpresas, acabam por gostar um do outro por meio de uma série de diálogos bem-escritos. Talvez. Já vimos, obviamente, tudo isto noutros filmes, mas é o tipo de situação que não nos importamos de ver mais uma vez. Especialmente quando está a acontecer a personagens de quem gostamos genuinamente.


As dinâmicas relacionais do argumento de Holdridge soam a verdadeiras, especialmente atendendo à época em que vivemos, em que a interacção virtual substituiu quase por completo o “bar”, a pornografia se tornou num tópico de conversa casual e algo como a “infelidade pela Internet” é um potencial entrave a uma relação. Mas mais interessante que a história em si é, sem dúvida, a fotografia de Robert Murphy; o filme serve como um tour maravilhoso e a preto-e-branco da Los Angeles hipster dos nossos tempos, brindando-nos com quase tantos planos da arquitectura da cidade (sem turistas) como das personagens. E é verdadeiramente um prazer ser guiado por uma cidade sobre a qual sabemos, incrivelmente, quase nada, à excepção de que tem uma placa onde se lê “Hollywood”. Quando ultrapassamos o cliché que é, na realidade, o molde do boy-meets-girl, é refrescante ver um tributo despretensioso e com estilo a L.A. da parte dos que se classificam como “indie”, bem como um olhar interessante e reflectido sobre a interacção social num mundo pós-“You’ve Got Mail”.

Pedro Ponte (Ante-Cinema)

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